© Obá Oriaté Miguel W. Ramos, Ilarí Obá

Traduzido por Ricardo Ferreira do Amaral, advogado, artista plástico e filho de Airá.

NOTA: Tornou-se popular o uso do termo “Aborisha” para se referir a qualquer um que sirva aos Orixás. Em Cuba, alguém que não seja sacerdote, mas participa da religião, é referido como Aberikola ou “não lavado”. Como este termo pode ser utilizado de modo depreciativo, escolhemos empregar o termo Aborisha para respeitar e posicionar àqueles que não sendo sacerdotes, tal como denota o termo, “servem” aos Orixás.

Elegbá (Também conhecido como Eshú ou Eshú-Elegbá), Ogún, Oshosí, e Osun são os orixás comumente designados em espanhol por “Los guerreros – os guerreiros”. Elegbá é primeiro orixá a ser recebido e adorado em todos os atos religiosos. É o porteiro de Olorun e lhe são confiados a abertura e o encerramento de todas as cerimônias. Também é o orixá que prova a fé humana em Olorun e nas divindades. Se a nossa conduta na Terra for apropriada, Elegbá ajuda e valoriza a humanidade permitindo que as iré-bênçãos visitem o indivíduo e distanciando as osobo ou energias negativas. Por outro lado, se nossa conduta for inapropriada, Elegbá permitirá que as forças negativas do universo ataquem o indivíduo, sem lhe prestar alguma defesa.

Em Cuba, os lukumis fazem uma distinção entre Elegbá e Eshú. Para os lukumis, Eshú é o aspecto malévolo da divindade, que continuamente vagueia pelo mundo, testando a humanidade, criando diferentes controvérsias e problemas nas vidas das pessoas. Elegbá é o aspecto mais dócil da divindade, tanto é assim que pode ser trazido para dentro de casa e, se for apropriadamente atendido, não ocasionará nenhuma ruína, ao contrário, trará proveito ao devoto. Na Iorubalândia e no Brasil, Eshú-Elegbá sempre mora do lado de fora da casa, em uma capela erigida especialmente para ele na entrada. Adaptações de diferentes culturas e situações de vida em Cuba produziram a introdução de Elegbá na casa do devoto e a separação ou distinção entre o que eventualmente é entendido em Cuba como diferentes manifestações da divindade. Ainda que Eshú e Elegbá sejam em realidade uma mesma divindade, muitos lukumis não os vêem desta maneira.

Elegbá, o trapaceiro terrestre, pode ser uma divindade muito maldosa, amiúde tão obstinada ou irritável quanto uma criança. Contudo, ele requer pouco e como uma criança, é facilmente satisfeito se tratado com a reverência apropriada e devoção.

Ogún é o orixá do ferro, padroeiro dos ferreiros e de todos aqueles que trabalham em contato com o ferro ou metais. Também está associado com a cirurgia e sua ajuda e solicitada quando há que se enfrentar qualquer operação, seja esta do tipo que for. Ademais, Ogún é o deus da guerra e representa a justiça divina de Olorun na Terra. Ele é o verdugo de Olorun e leva a cabo as sentenças do Ser Supremo quando os humanos violam as leis e os costumes divinos. È muito cruel, feroz e sofre de uma sede insaciável de batalha. Porém, assim como Elegbá, quando é convenientemente apaziguado, protege seus devotos contra qualquer dano.

Oshosí é o orixá da caça. Defende os injustamente perseguidos e garante que escapem de seus antagonistas. Em Cuba, durante a escravidão, Oshosí também foi considerado o orixá dos negros, que lhe oravam no mato, enquanto fugiam das plantações e das crueldades da escravidão. Os negros chamavam por Oshosí para manter os capitães-do-mato e seus cachorros longe das suas pistas. Oshosí está associado com as pegadas e as florestas, prestando socorro aos injustamente perseguidos e auxiliando aos que perderam o rumo de suas vidas, ajudando-os a reencontrá-lo.

Osun está relacionado a nosso orí-interior da cabeça, uma espécie de “espírito guardião” que nos acompanha durante a vida, pelo que também está relacionado com o nosso destino. Osun também é um sentinela. Sua função é proteger o devoto e seu lar da maldade e dos malfeitores. Sua postura é sempre ereta. Osun nunca deve ser inclinado nem tombado, porque isto é um mau presságio ou o aviso de uma morte iminente. Osun é somente virado quando o/a seu/sua dono/a falece.

Se Osun cair ou virar, deve ser imediatamente posto em pé e colocado embaixo de água corrente fria. Podemos pegar um ovo e limparmo-nos com ele, depois quebrá-lo encima do pássaro da representação de Osun e deixá-lo escorrer sobre ele, a fim de aplacar qualquer perigo que se faça iminente. Se isto não estiver disponível, um pouco de ori (ou de manteiga de cacau) deverá ser passado, ou de efún (casca de ovo moída – cascarilla para os lukumis) deverá ser esmiuçada sobre a figura. Ademais, o indivíduo deverá consultar a adivinhação para se determinar se a queda de Osun foi mera coincidência ou um aviso de problemas vindouros.

Servindo a Elegbá:

Os lukumis ensinaram-nos que idealmente, Elegbá deverá ser cultuado nas segundas-feiras, no começo da semana, e preferentemente pela manhã, antes de sairmos de casa para nossa rotina diária. É necessário ter em mente, ainda, que uma vez acostumando Elegbá a este tratamento, devemos ser responsáveis e persistentes. Se você esqueceu de fazê-lo legitimamente, poderá não haver conseqüências, pois os orixás são muito misericordiosos e não castigam a inocência. No entanto, se você propositadamente o ignorou ou abandonou, Elegbá poderá provocar muitos dissabores na vida do devoto.

A Indiferença é uma das armas mais perigosas de Elegbá quando escolhe desconsiderar as súplicas de socorro dos devotos que o ignoraram. Quando o perigo se aproximar, Elegbá simplesmente “olhará para outro lado” e permitirá que o devoto seja atingido. Porém, quando um indivíduo cuida de Elegbá apropriadamente, não somente desviará o perigo, mas também o valorizará com todo tipo de recompensas que possa colocar no caminho do devoto. Este o jeito de Elegbá.

Não obstante, como ele tem a tendência de se comportar às vezes como uma criança, é de se advertir que, uma vez que acostumarmos Elegbá a algo, deveremos prosseguir com este costume tão proximamente e devotamente quanto nos seja possível. Ainda que ele não cause desavenças por erros inocentes, poderá fazer com que o devoto se lembre deles, criando obstáculos ao seu progresso na vida.

Na minha opinião, se a vida do indivíduo é como a da maioria das pessoas que vivem na sociedade moderna, é ponderável cuidar de Elegbá quando tenhamos oportunidade, variando nos dias e assim, criando uma margem de flexibilidade com ele. Ainda que as manhãs das segundas-feiras sejam ideais, a flexibilidade pode ser mais realista e conveniente.

Elegbá não poderá ser lavado com água. Se tiver acumulado muito sangue ou azeite, deverá ser lavado vinho branco ou aguardente, e esfregá-lo suavemente com uma toalha branca ou com uma esponja de limpeza feita de fibra de sisal podem ser as melhores opções. Depois, deverá ser untado com epó (azeite-de-dendê) e uma ou duas gotas de oñí (mel), mas não exagere porque isto poderá se tornar pegajoso e imundo com o passar do tempo. Um pouco de epó deverá ser colocado nas mãos, esfregando-as, de modo a cobri-las totalmente e depois esfregadas em Elegbá. Enquanto untamos Elegbá com azeite, oramos a ele, pedindo-lhe sua bênção e direção. Uma vez terminado, ele é colocado novamente em seu prato de barro e a oñí é lentamente vertida sobre ele. Depois de o epó e a oñí terem sido oferecidos, assopre nele um pouco de fumaça de charuto e dê-lhe um pouco de vinho branco colocando este em sua boca e rapidamente cuspindo-o sobre Elegbá. Finalmente, acenda uma vela e cumprimente-o no estilo ritual acima descrito, fazendo seus pedidos pelas iré e bem-estar.

Ogún e Oshosí são atendidos da mesma maneira, ainda que não sejam lavados. Quando se acumular muito epó sobre eles, poderão ser limpos com uma toalha branca ou um pano branco (esta toalha ou pano deverão ser guardados especificamente para este propósito). A Ogún lhe são oferecidos aguardente ou rum branco (o gin também é aceitável) e a Oshosí lhe é dado anis. Osun não é tratado, a não ser que isto seja especificado na adivinhação. Contudo, você pode lavá-lo quando tenha acumulado sujeira ou pó. Nessa ocasião, deverá ser lavado com água fria, lembrando-se sempre de mantê-lo ereto.

Elegbá prefere morar em um prato de barro, mas pode ser colocado em um pote de cerâmica. Ogún e Oshosí moram juntos num caldeirão de ferro. Osun mora em algum lugar alto, preferentemente acima da cabeça de seu dono. Ainda, para certas ocasiões, e somente quando for recomendado na leitura do oráculo, Osun poderá ser colocado diretamente no chão,

Saudação para Elegbá:

Para cumprimentar ou saudar Elegbá, primeiramente derrame três ou mais gotas de água fresca de uma cabaça ou outro recipiente na frente dele. Depois disto, deixe a cabaça a um lado e bata três vezes no chão, com o punho fechado, na frente dele, tal como se bate em uma porta. Depois, permaneça ereto enfrente dele e esfregue as mãos uma na outra, enquanto ora e pede por suas bênçãos. Então, vire rapidamente dando-lhe as costas e raspe os pés para trás na direção dele, assim como um touro prestes a atacar. Finalmente, balance rapidamente suas nádegas de um lado para o outro e vá embora. No mínimo, antes de sair de casa e antes de retornar, devemos pedir a bênção e a direção de Elegbá no mundo lá fora.

Oferendas:

Elegbá gosta de todo tipo de frutas, especialmente das goiabas, da cana-de-açúcar e dos côcos. Também aprecia doces e balas, bolas feitas de farinha de milho com mel, peixe defumado e ekú defumada (aguti ou cutia – jutía ou hutía em espanhol), pequenos pedaços de côco e bolas de ado feitas com gófio- um tipo de farinha de trigo torrada ou de milho e mel. As oferendas para Elegbá são usualmente postas numa coluna em ruínas ou num monte de lixo, numa encruzilhada do bosque ou no mato.

Ogún aprecia côco verde, bananas verdes ou plátanos, inhame branco (ishú –ñame em espanhol) e batata doce branca (ambos assados com casca), melancia e ananás. Suas oferendas podem ser deixadas no mato ou na linha-de-trem. Oshosí aprecia uvas brancas e melões. Também de ado, feijão-fradinho assado ou adoçado e milho assado ou adoçado. Oshosí gosta especialmente de caça, tal como a carne de veado e semelhantes, assadas com epó. Suas oferendas podem ser deixadas no mato ou nas encruzilhadas.

Antes de qualquer atividade religiosa ou social ser celebrada em nossa casa, é aconselhável preparar três bolsinhas com grãos assados de milho, peixe defumado, cutia defumada, azeite-de-dendê, mel, rum, guloseimas e algumas moedas. Elas são colocadas em Elegbá um dia antes e depositadas no dia seguinte nas esquinas do quarteirão onde moramos. Às vezes um sacrifício é requerido, mas deverá ser indicado pela adivinhação. Este pequeno ebó sossega Eshú, o trapaceiro, e traz harmonia a qualquer evento celebrado em nossos lares. É costumeiro recolher os restos da comida servida em um dia particular e enviá-los a Eshú, colocando-os aos pés de uma árvore da nossa casa, no meio-fio da nossa calçada, ou enviando-os ao mato. Esta oferenda garante ao devoto a caridade de Eshú.

Prece a Elegbá:

Mojubá Elegbá (Saúdo a Elegbá)
Elegbá agó!(Peço a sua permissão, Elegbá!)
Baralayiki, Eshú odara (Baralayiki [nome de louvor], Eshú, o bom)
Mojubá Eshú lona (Saúdo a Eshú dos caminhos)
M’ore nla (Meu grande amigo)
Kosí ikú, kosí arun (Permita que não haja morte, permita que não haja doença)
Kosí ofo, kosí arayé (Permita que não haja perda, permita que não haja problemas terrenos)
Fun mi iré owó, iré omó (Conceda-me as bênçãos do dinheiro, as bênçãos dos filhos)
Iré omá, iré arikú babawá (as bênçãos da inteligência [para discernir o certo do errado], as bênçãos de uma saúde boa e duradoura e o bem-estar.

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