Obá Oriaté Willie Ramos, Ilarí Obá
Miami, Florida

Miami has been rocked by a recent incident involving Lukumí and traditional Yoruba priests and priestesses. At least two people already ordained in the Lukumí priesthood, have been re-ordained by a group of traditional Yoruba priests that have been causing unfortunate and destabilizing waves in this city. Despite the controversial nature of the ceremonies, to add insult to injury, the rites counted with the active participation of Lukumí olorishas and a Lukumí apuón and babalawo who has become relatively well known in the community since his arrival from Cuba three or four years ago.

Ultimately, while as a priest I may have my personal opinion about this incident, an opinion that seems to be shared by the majority of the Orisha community in this city, there is little I or anyone can do at this stage to revert this process. Clearly, the participants—the ordained and the traditional Yoruba olorishas that performed the ordination—made a choice and I will respect that choice, even if I disagree. My major conflict, however, is not with them, but with what is clearly a process that will subsequently bring about instability to our mutual religious traditions. Sadly, these olorishas are undermining the wellbeing of the Orisha religion, in Africa and in the Americas, with reckless disregard for the long-term consequences of their actions. This, too, is their choice, but it is an option that I and many other Lukumís in this city are not willing to accept acquiescently because at its core are issues of orthodoxy and validity.

As such, as an olorisha who for years has made numerable contributions to the expansion of Lukumí religion; toward promoting understanding, tolerance, and respect in a society that does not necessarily accept us, I join the growing number of olorishas in Miami that condemn the vile and offensive ridicule of the Lukumí Orisha tradition and the contemptible disrespect for our ancestors by all the participants in these ceremonies, but more so by those Lukumí that played an active part in this travesty. I stress that were it not for our foremothers and fathers, for those alagbás that laid the foundations of Orisha in Cuba and other areas of the New World, Traditional Yoruba priests and priestesses would not be able to function outside Africa today with the facility that they do. Whether they acknowledge it or not, and in spite our virtues and flaws, we, the Cuban Lukumí, laid the foundations in this region of the New World. If for nothing else, we must at least be given our due respect for this much.

I sincerely believe that those Lukumí olorishas that actively participated in these ordinations consciously mocked our Lukumí forebears and our religious heritage. Their direct participation in these initiations is reprehensible, irresponsible, and by all means unforgiveable because they perpetrate a direct and outrageous affront to us as a religious community. Their actions constitute a deplorable transgression against our religious legacy because they question and cast doubt on our validity and orthodoxy as a growing world religion. As such, I am not willing to sit idly while a misguided and injudicious group of people maliciously burrow at the foundations of our community, disregard its historical plight, destroy its stability, and question its legitimacy and validity, something that has taken the Lukumí and their descendants almost two hundred years to accomplish! We cannot allow the seeds of discord and instability to sprout among us—Traditionalists, Lukumí, and all Diasporan traditions—because instead of promoting understanding and mutual cooperation, these seeds will only evolve into confusion, tension and intolerance. Sadly, instead of seeking unification and cooperation, these initiations will only contribute to the further fractioning of the Orisha religion in Africa and the Americas.

Consequently, this disrespectful and unethical violation of our religious ethics has left me no choice but to unreservedly join the ranks of Lukumís that support those rightful critics that are calling for the outright censure and complete banishment from our rituals of those priests that participated in this insolent and odious travesty. While we cannot revoke their priesthood, given that this is Olodumare’s prerogative, we can reject them and refuse to allow them to benefit in any way from our rituals and celebrations. If our practices are not legitimate enough for these Lukumí olorishas to respect and defend, then they should not take any part at all in any Lukumí ceremony!

Nevertheless, the question of the long-term effects of these events still remains unanswered. By condemning these individuals and closing our doors to them we will not resolve the major issues at hand. This requires a completely different approach. For years, I and others have continuously stressed the need for the Diaspora and Africa to sit down and discuss our religious position and future. At this point, it is imperative that we do so before these and similar despicable offenses provoke an avalanche of controversies among our priests and priestesses that will only spread greater havoc and lead to further misunderstanding and divisionism.

In the name of civility, I call for a congress that counts with the participation of legitimate and reverent representatives from Yorubaland, Cuba, the United States, Brazil, Trinidad, and other areas of the Orisha Diaspora. I call for a meeting of the minds, one in which we can all come together to the table and speak as equals, free of condescension and arrogance. It is crucial that we sponsor an encounter in which we can openly engage the ways in which we as a religious community can achieve a common awareness, a mutual understanding, respect for our differences, and most importantly, the unification of a people that worship the same deities even if our approaches differ! If we cannot respect our own devotion, regardless of our ritual differences, then we cannot, and do not, respect Olodumare and the orishas!

Obá Oriaté Willie Ramos, Ilarí Obá

Correio Brazilienze
Em visita a Brasília, autoridade religiosa da Nigéria anuncia a abertura de um templo que amplia as opções para o aprimoramento do culto ao deus africano das adivinhações, Ifá-Orunmilá
Leilane Menezes

Desde sua fundação, Brasília atrai místicos, sensitivos e seguidores das mais variadas crenças. Há quem diga que a construção da nova capital pode ter sido orientada por mentores espirituais. Confiante na veracidade dessa vocação para o ecletismo religioso, um rei nigeriano esteve na cidade na última semana para dar início ao projeto de implantação de um novo templo, conhecido mundo afora como Floresta Sagrada. Vestindo trajes africanos em tom amarelo e segurando um cajado, o obá Gbadebo Adeoba, 82 anos, foi recebido por senadores e deputados. O novo espaço será dedicado ao culto do deus Ifá-Orunmilá — senhor da adivinhação e base de todas as religiões de matriz africana cultuadas no Brasil — em Brasília. No local, Adeoba garante que o brasiliense poderá ter consultas espirituais para, entre muitas outras finalidades, conseguir adiar o dia da própria morte, curar-se de doenças e escapar de acidentes por meio das previsões de um oráculo.

Adeoba é um dos três maiores líderes espirituais africanos no mundo e também tratou de temas referentes ao Dia Mundial da Consciência Negra (dia 20 próximo) com os congressistas. A visita foi coordenada pelo Centro Cultural Ase Omo Oduduwa e pelo Instituto Brasil Floresta Sagrada. Na qualidade de representante de ancestrais africanos, o convidado veio também trazer apoio institucional à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e à implementação da lei que institui o ensino da cultura e da história afro-brasileiras nas escolas públicas.

Ele é considerado rei na região de Mafisa Ogbomosho Oyo, na Nigéria. O sumo sacerdote é o terceiro na hierarquia mundial do culto de Ifá-Orunmilá. Ser um obá significa estar no nível mais alto do culto — como o papa está para a igreja católica — e pertencer a uma tradicional família de reis. Em sua nobreza, ele não dispensa as reverências. Os seguidores curvam-se diante de sua presença e o cumprimentam com um toque nos pés e um beijo nas mãos. Desde 1998, o obá mantém no Brasil um grupo de pessoas iniciadas por ele na filosofia e no culto a Ifá.

A expectativa é de que o primeiro templo seja instalado em Brasília, em um local não revelado, mas já definido, até setembro de 2010. A vinda do obá tem como objetivo acelerar a negociação com o governo. Quem pretende receber formação religiosa no Ifá-Orunmilá, atualmente, precisa viajar à África. Há somente dois iniciados no Centro-Oeste. Apenas os homens são aceitos e as mulheres participam de cultos especiais. A legião de seguidores já soma mais de 200 mil adeptos, grande parte deles em Brasília. Obá hospedou-se em uma mansão no Lago Sul, de propriedade de uma de suas admiradoras, uma bailarina. Os adeptos desse culto acreditam haver um destino escrito para cada pessoa. O oráculo serve para ajudar a fazer com que ele seja cumprido. Os iniciados garantem: é possível, sim, adiar o dia da própria morte. Basta receber a orientação certa para seguir o melhor caminho.

De acordo com o obá, o objetivo do Ifá-Orunmilá é trazer equilíbrio à vida das pessoas, bem como evitar que elas percam tempo. As visões aparecem após consultas a um oráculo, composto por búzios e outros “instrumentos divinantes”, ele explica. “A previsão se revela como em um vídeo na cabeça do iniciado”, resume Adeoba. Pessoas costumam buscar a ajuda de obás e babalawos, os maiores sacerdotes do Ifá, antes de viagens, de aceitar um emprego, quando te mem acidentes ou casamentos malsucedidos. “Já vi muita gente escapar de acidente porque consultei o oráculo e ele viu alguma tragédia”, garante o babalawo nigeriano Sola Johnson, seguidor do obá Adeoba, que atende em Brasília, São Paulo e Recife.

Cura
Em Masifa Ogbomoso Oyo, o obá tem status de governante. Além disso, sua residência vive cheia de pessoas à procura da solução para enfermidades. A saída para os problemas aparece, segundo o obá, por meio de conhecimentos transmitidos pelos ancestrais via oráculo. Obás e babalawos podem cobrar pelo serviço — “mas apenas o que o homem ou mulher puder pagar”, garante Sola. Segundo o babalawo, é possível ver no oráculo quem será o marido ou a esposa de uma pessoa, se o futuro companheiro é negro, branco, alto e quantos filhos vai ter. “É o oráculo que fala. Sem as peças não consigo fazer previsões. Não somos videntes”, completa.

Adeoba não encontrou dificuldade em ser recebido por políticos. Eles são alguns dos principais clientes de obá e seus babalawos. Segundo Adeoba, não são poucos os homens engravatados que ocupam lugares no Congresso Nacional a apelar para as visões mostradas em oráculos, que supostamente aparecem para os iniciados nesse culto. Procuram os babalawos um busca de orientação espiritual para ganhar eleições ou garantir a saúde da família.

Entidade da luz
O culto africano Ifá-Orunmilá deu origem a todas as religiões de base africana no Brasil. Orunmilá é a divindade que representa a luz, aquele que tem poder de alterar o dia da própria morte ou promover mudanças de caráter. É um santo muito respeitado no culto orixá. O Ifá é a lei divina, o sistema onde o divino se manifesta.

Canal com o destino
Os babalawos são estudiosos do Ifá-Orunmilá que se comunicam diretamente com o Odu, que é o destino da pessoa. O odu é mais forte que o orixá. Os religiosos desse culto com formação inferior à dos babalawos não têm conexão direta com o Odu.

Surpresas para Brasília
O rei Gbadebo Adeoba diz sentir uma “energia muito positiva” em Brasília. “A cidade ainda pode trazer muitas coisas boas para o Brasil”, afirma. Ele faz um pedido aos governantes: “Peço paz e harmonia e que olhem com mais atenção para os problemas do povo”. Previsões para 2010, só a partir de 1º de dezembro. “Antes disso, não dá para sentir a energia do próximo ano no oráculo”. O babalawo Sola garante que o obá nunca errou previsões. “Ele previu que Eduardo Campos ganharia para governador de Pernambuco e Lula seria eleito presidente”, afirma. E em 2010? Quem será eleito governador do DF? E presidente da República? “Ainda é muito cedo para dizer. Mas podem esperar uma surpresa muito grande”, adiantou Sola.

Há apenas dois babalawos no Centro-Oeste iniciados na África. Um deles, Sebastião Fernando da Silva, 48 anos, garante ser o único brasiliense. Ele se formou em 2001. “Tive vontade de conhecer o culto depois de descobrir que meu avô era iniciado em Ifá”, diz. “Procurei me formar na África porque no Brasil há muitas distorções do culto. Aqui, os pais de santo atuam como clínicos gerais, tratam de todas as divindades. Lá, eles formam especialistas”, explica.

As casas de pais e mães de santo prosperaram em lugar do culto original do Ifá-Orunmilá. “No Brasil criou-se a autoridade de pai de santo, mas é o babalawo quem está acima de qualquer orixá”, relata Sebastião. Ele acredita na instalação de uma Floresta Sagrada em Brasília para dar orientação a todos os praticantes de cultos originários do Ifá, como o candomblé, por exemplo. “A Floresta Sagrada funciona como uma reserva ambiental, com colégios e cursos para conscientização do homem como parte da natureza. E, é claro, como um espaço para a iniciação de novos seguidores, não só no campo religioso, mas no filosófico”, explica Sebastião.

Glossário
Babalorixá ou Baba: quer dizer pai. É um sacerdote, chefe de um terreiro. Faz consultas aos orixás por meio do jogo de búzios. Conhece os segredos das folhas sagradas da natureza. É o mais comum no Brasil e atua na falta de um babalawo.

Babalawo: chefe supremo do jogo de Ifá, está abaixo apenas do obá. Tem conexão direta com o Odu.

Obás: são os chefes tradicionais de assentamentos, pertencentes a famílias de reis. Seriam os papas do Ifá-Orunmilá.

Odu: é o destino escrito para uma pessoa, somente revelado por meio do oráculo.

Oráculo: nenhuma previsão é feita antes de consultar esse método de adivinhação. Usam-se búzios, tábuas sagradas e elementos da natureza, como pó de árvore, entre outros.

Orixás: deuses africanos que correspondem a pontos de força da natureza.

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